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Cavalo Marinho quebra paradigmas e inclui mulher no espetáculo

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Por Maria Eduarda Barbosa
O Cavalo Marinho é um complexo de dança, música e representações com origem na Zona da Mata pernambucana. Na brincadeira, cerca de 70 personagens narram as histórias do cotidiano da região, a relação de patrão versus empregado, a dominação do homem versus submissão feminina, entre outros. O folguedo, denominação para as festas populares, geralmente é composto por homens. Contudo, ao longo dos anos, a mulher foi ganhando espaço no Cavalo Marinho, mostrando que outras relações são construídas entre homens e mulheres, em detrimento da divisão patriarcal que existia antigamente. Essa análise faz parte da dissertação de mestrado de Rosely Tavares de Souza, que foi realizada no Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade Federal de Pernambuco.
Intitulada “Oh, pisadinha boa! Transformações e permanências no Cavalo Marinho Pernambucano entre os anos de 1960 e 2000” e orientada por Isabel Cristina Martins Guillen, a pesquisa não só aborda a participação da mulher nesse folguedo, como também mostra as estratégias criadas pelos brincadores do Cavalo Marinho para dialogar com as políticas públicas culturais, pois o formato original de apresentação do folguedo sofreu modificações, principalmente a partir da década de 1960.
Em sua origem, o folguedo era longo e complexo, com mais de oito horas de duração, mas esse formato deixou de acontecer com certa frequência por causa das apresentações em palcos e festas de padroeiros das cidades. Passou a existir uma combinação prévia do pagamento aos grupos e o tempo de espetáculo foi reduzido a no máximo duas horas. Rosely destaca que, por meio desse diálogo, os brincadores podem negociar mais espaços para as apresentações, que contribuem para a legitimidade e visibilidade de sua prática, como oficinas de dança e música nos centros de artes das universidades de várias cidades do Brasil – como Brasília, São Paulo e Curitiba – e apresentações no Recife no período do ciclo natalino.
No caso das representações das mulheres, Rosely destaca que elas são detentoras de uma memória sobre o Cavalo Marinho tanto quanto os homens. No entanto, ela observou que a relação de proibição às mulheres não existe apenas no folguedo da Zona da Mata Norte, mas também na história de algumas mulheres de todo o Brasil. “Estudar esse percurso que as mulheres protagonizam na sociedade contemporânea e nos folguedos do Brasil nos permite analisar a dominação masculina como princípio organizador da sociedade, assim como do folguedo Cavalo Marinho na Zona da Mata Norte pernambucana”, diz.
ARQUIVO VIVO – Na sua pesquisa, Rosely utilizou-se da História Oral como metodologia. Para ela, isso foi o “fio condutor” de seu trabalho porque, em suas buscas de arquivos nas cidades do Recife e do Rio de Janeiro, ela raramente encontrava algo no período entre 1960 e 2000. Então, a principal documentação de sua pesquisa foram as entrevistas realizadas com mestres, brincadores e donos dos grupos de Cavalo Marinho. Rosely também afirma que os grupos pesquisados são todos da Zona da Mata Norte do Estado, existindo apenas um grupo na Região Metropolitana do Recife. “Gostaria de ter encontrado mais informações nos arquivos do Estado de Pernambuco e fora deles, mas não foi possível devido aos poucos registros sobre manifestações culturais ditas populares”, destaca Rosely.
Para Rosely, o Cavalo Marinho possui, atualmente, uma visibilidade que não tinha nas outras épocas que ela analisou. As pesquisas do Movimento Armorial, Movimento de Cultura Popular (MCP) e as políticas públicas culturais possibilitaram mais reconhecimento para o folguedo, permitindo um diálogo entre brincadores,  autoridades políticas e pesquisadores. “Vejo não apenas no Cavalo Marinho, mas outros folguedos como Reisado, Caboclinho, entre outros, sendo tão consumidos quanto uma banda do ritmo brega, pagode ou sertanejo. De fato, existe um silenciamento da mídia, mas certamente na atualidade existem mais espaços para esse folguedo no que se refere aos conhecimentos transmitidos aos grupos musicais como Mestre Ambrósio, artes cênicas como o grupo Grial, formação de ator como Antônio Nóbrega, esses que estiveram e estão na mídia”, finalizou Rosely. Em 2012, o Cavalo Marinho foi inventariado e reconhecido como patrimônio imaterial pelo Governo do Estado de Pernambuco – no momento, esse processo segue para o Iphan, em Brasília, para ser finalizado.
Mais informações
Programa de Pós-Graduação em História (PPGH)
(81) 2126.8292
ppghufpe@yahoo.com.br /  ppghufpe@ufpe.br
Rosely Tavares
roselytavares75@hotmail.com

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